terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Aula 3 - Questão 3 (Texto de Marcelo Andrade)



A partir do debate sobre a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e a Reforma do Ensino Médio, aprovada pelo senado no último dia 8 de fevereiro, como pensar em uma escola que não ignore as diferenças e também não se feche em guetos, de acordo com as reflexões de Marcelo Andrade?


Questão proposta por: Magda, Luísa e Elisa.


Texto base: ANDRADE, M. (org) A diferença que desafia a escola: a prática pedagógica e a perspectiva intercultural. Rio de Janeiro: Quartet/Faperj 2009.

11 comentários:

  1. Patindo do conceito de Multiculturalismo exposto no texto base, onde multiculturalismo é a existência de múltiplas culturas coexistindo num mesmo tempo e espaço, pensar em BNCC ou nos rumos que a reforma do ensino médio tem tomado pode-se colocar alguns apontamentos.
    O Brasil é um país continental composto por diversos povos e culturas. Um país com uma extensão tão grande e com povos com culturas tão milenares e distantes já a primeira dificuldade para pensar ambos os temas. Normalmente essa palavra "comum" busca uma uniformidade, uma cultura ou saberes comuns, Foucault nos alerta sobre o perigo dessa prentença uniformização, pois normalmente ele serve para apagar minorias ou culturas não-europeias e gerar uma cultura comum moldada em valores colonizadores, até mesmo o ensino de África pode passar por isso, pouco adianta falar de África na escola com os mesmos autores de outrora, para a coisa avançar é nescessário estudar "autores de cor" (people of colors) que busquem outro enfoque sobre a África e América por exemplo. A questão é, quando o governo usa termos como "base comum" temos que sempre desconfiar se isso não é novamente uma unificação que apagará novamente as vozes e a história dos povos que foram colonizados.
    A reforma do ensino médio como é proposta hoje, dividindo o ensino médio por áreas e impondo um ensino integral meio que presional, e sem investimentos na educação, é algo que deve ser muito debatido, e mais, denunciado. Essa reforma criará nichos, dividirá alunos e todo o corpo escolar, além criar "guetos" dentro da escola e do ensino como um todo, também impossibilitando uma troca de cultura e conhecimento entre as disciplinas. Isso é o oposto do que o autor (Andrade) entende como umlticulturalismo.

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  2. Boa questão, e a partir do que a Adriana Rosa também aponta, a reforma da BCC e a do Ensino Médio tem também como característica não ser fruto de um debate amplo com a sociedade, mas uma determinação vinda diretamente desde o Ministério de Educação. A política pública pensada, gestada e imposta desde o gabinete, sem muito espaço para escuta e debate. Nesse sentido, ainda mais difícil perceber o multiculturalismo como perspectiva ou preocupação, visto que muitas vezes os temas focados nessa tendências teórica dialoga com representações de grupos minoritários (politicamente) em nosso país. Mas, por outro lado, o artigo do Andrade também nos ajuda a entender uma construção histórica da própria perspectiva multicultural. Diferentes formas da educação escolar se apropriar ou negar a diferença. Quais vocês consideram as mais atuais? Quais nós não conseguimos mais identificar? As políticas de ação afirmativa desenvolvidas nos últimos anos criaram impactos já visíveis no campo da educação? Qquais?

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  3. Conforme o autor menciona no texto, "a escola pode ser um elemento de acesso a instrumentos importantes de redistribuição de poder", mas alerta também que o contrário também pode se dar por meio do que ele chama de "uniformização", apontando para o que se vivencia no "chão da escola", onde o que se vê é a escola como
    "principal aparelho ideológico de Estado(A.I.E) capitalista dominante nas formações sociais modernas, pois é ela que forma as forças produtivas para o mercado de trabalho", conforme asseverado por Bourdieau, Althusser e Establet. E é para essa formação de força de trabalho que se concebe a elaboração de políticas públicas educacionais, que tem visado a manutenção de um projeto de poder capitaneado pelos que detém o capital financeiro, que se autointitulam dominantes, para os quais interessa que o saber sistematizado siga sendo privilégio de uma fração seleta da sociedade brasileira e que a educação ofertada para os oriundos das classes populares seja a mais elementar possível, com incipiências das temáticas abordadas, promovendo desse modo, uma educação para os dominados que servirão de mão-de-obra barata para a perpetuação das elites no poder, "formando" um exército de subalternos pouco ou nada conscientes de seus direitos e que se sintam inferiorizados pelas suas diferenças das mais diversas ordens, tais como:gênero, raça, local de nascimento, credo, dentre outros. Sujeitos a toda sorte de exploração e manipulação dos discursos neoliberais fáceis de comprar como solução milagrosa para todos os problemas/dilemas sociais, reduzindo todas as causas exclusivamente a questões de mérito/esforço para "chegar lá" apagando da agenda os "novos movimentos sociais" conforme preconizado pelo autor. Desse modo, a BNCC, versa pela uniformização apontada pelo autor tendo como canal a escola como A.I.E, posto que as metas traçadas pelas três versões do documento da base discutida com um grupo restrito de profissionais de educação, selecionados por meio de inscrição em cada estado da federação, "os direitos de aprendizagem" conforme nomeado por "eles"( participei da versão discutida no RJ), que já traziam meio pasteurizadas para que "nós" pudéssemos discutir/contribuir com argumentos, como outros países tem Base Curricular e como isso seria bom, um avanço para o Brasil, pois todo aluno do Oiapoque ao Chuí teria garantido o mesmo direito, quando na verdade o objetivo é unificar o currículo em aspectos como língua(idioma), conceitos matemáticos e a medição da qualidade seguir ampliando as práticas já enraizadas no país, que são as avaliações externas, ou seja, padronizar para medir de forma única para todos, independente das diferenças existentes. Situação semelhante ocorre com a Reforma do Ensino Médio que nada mais é que esvaziar de conhecimentos necessários aos sempre excluídos dos direitos plenos ao conhecimento, que são os filhos e filhas das classes trabalhadoras, que em sua maioria são moradores de regiões desprivilegiadas de todo acesso a bens culturais, mas que se encontram " seduzidos" pelo ideário capitalista que apregoa que basta trabalhar para subir na vida, que estes reduzem a alcançar bens de consumo cada vez mais presentes na vida de todo o conjunto da população imersos na globalização. Assim, os itinerários apresentados na Reforma nada mais são que, um engodo, pois na realidade as escolas de Ensino Médio já existentes não dispõe de investimentos estruturais adequados, e o que poderia nos levar a crer na oferta de uma educação de "qualidade"que passa inescapavelmente pelos recursos empregados corretamente e mesmo na ampliação destes? A mim, me parece mais que, pretendem "secar" o referido nível de ensino para favorecer a iniciativa privada e ao mesmo tempo obter mais recursos do FUNDEB para o oferecimento em jornada ampliada.

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  5. Em suma, os pobres, pretos e de periferia ficarão cada vez mais a mercê de falta de opção(que é o que apreendo dos tais itinerários), do que uma opção diferenciada que se fosse pensada de outra forma, com debates ampliados, inclusive sobre orçamento, aliás em tempos de Emenda Constitucional nº 95(PEC 241/55) aprovada, fica mesmo pouco provável crer que algo em educação será prioridade pelos próximos vinte anos nesse país, a certeza que se tem é onde se cortará os gastos. Alguém tem dúvida quanto a isso?

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  6. “a escola foi historicamente construída a partir de um modelo: o aluno da classe média branca identificada com os valores ocidentais e cristãos. Dentro desse modelo cabem alguns e não todos. Dentro desse modelo alguns obtêm o sucesso, outros a reprovação”. (ANDRADE, 2009, p.42 )
    A escola, assim como a universidade, tem sido historicamente considerada espaço exclusivo das classes médias e altas. Como um espaço que não está aberto as diferenças e como diz o autor, aos alunos que não se adaptam a esse modelo cabe a reprovação, a exclusão, o fracasso escolar. Crianças e jovens de periferia continuam a ouvir que não estão aptos para a universidade ou que não se adaptaram a escola por falta de mérito. Temos presenciado as políticas de cotas na tentativa de diminuir a enorme desigualdade presente no Brasil – fruto de um processo histórico de exclusão – combatendo as ideias de que as oportunidades são iguais, pois ao receberem oportunidades de acesso ao ensino superior a classe trabalhadora tem mostrado o quanto se dedica na luta por melhores condições de vida. Assim, por meio de políticas de ações afirmativas, jovens de periferia têm conseguido vagas em universidades, nos últimos anos, tornado a universidade um espaço mais inclusivo e permitindo a troca de saberes.
    As políticas de ações afirmativas nas universidades beneficiam todos os estudantes e não apenas os cotistas, pois propiciam a criação de um ambiente multicultural com projetos voltados para as ditas minorias. Sobre o assunto tem uma reportagem bem interessante. “De todos os aspectos positivos da adoção dessas políticas de inclusão [inclusão socioeconômica, mobilidade vertical, aumento do coeficiente de aproveitamento escolar, redução da evasão, impactos na indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão], a dimensão epistêmica [produção de conhecimento social] é a mais significativa e, ainda, pouco estudada. Essas políticas alteraram a ecologia humana das universidades públicas.” Link
    http://www.poder360.com.br/opiniao/opiniao/cotas-beneficiam-o-conjunto-da-populacao-nao-so-os-vulneraveis/
    “As cotas, nesse momento, acaba sendo uma coisa genial porque vai descentralizar o conhecimento... que acaba fazendo uma modificação muito importante na vida do jovem de favela.” (MV Bill em resposta a um jovem de classe média que diz ser contra as cotas, mas não sabe dizer por qual motivo).
    Link
    https://www.youtube.com/watch?v=Mkif0n8-lvA

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    1. Nesse modelo de escola que temos e que a colega Ana Kelly bem se referiu, há alunos, "currículo", metodologia, professores ditos padrões, e nesse contexto, o que foge do padrão escolar é ignorado. Como exemplo, na BNCC há 60% de conteúdos ditos obrigatórios e 40% dito como diversidade, sendo que o que será cobrado nas avaliações são os 60%, ou seja, esses 60% virarão 100%, e então, os conteúdos de diversidade cultural serão ignorados. O que ocorre é que há uma tentativa, por meio das políticas públicas, de fixar uma identidade/cultura escolar, sendo que como vimos nos textos anteriores, isso não é possível pois as culturas e identidades são híbridas.

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  7. “Viva a diferença” eles diziam. Há tempos passamos por momentos em que cultivar o novo, o diferente, o exótico tem sido enaltecido com o intuito de criar nos sujeitos, um sentimento de aceitação. Tal movimento possui duas facetas. Facetas essas que buscam, em muitos momentos, ratificar o processo homogeneizador da cultura branca e não o contrário. A escola, por sua vez, incorpora esse argumento e propõe em muitos casos, situações simplistas que passam a ideia de que está abarcando a pluralidade de culturas. Vemos, a partir da BNCC que o Ministério da Educação (MEC) possui grande influência na Educação . Como uma de suas ações voltadas para a formação continuada, propõe uma série de recursos/materiais didáticos para a Educação Básica. http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/02_cd_al.pdf . A partir da observação desse material é possível pensar o retrocesso para a educação brasileira, no que se refere, especialmente, ao viés intercultural. (http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-regulacao-e-supervisao-da-educacao-superior-seres/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada-223369541/13536-materiais-didaticos )

    Destaco uma das temáticas à serem discutidas nesse material didático para a Educação de Jovens e Adultos – “ Trabalhadores do mundo – Os portugueses, que descobriam o Brasil em 1500, abriram caminho para mais de 3 milhões de imigrantes que vieram compor nossa raça até 1950”.

    Ainda temos muitos desafios.

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